quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Recado à nossas semelhanças


Fora os olhos, vem o hálito
que ainda nem senti....
Cabelos, negros, de outras vezes
algo que finjo que não vi
*
Sabemos reclamar quando é preciso
e falar das coisas bonitas também,
no canteiro da imaginação livre
alho, alecrim, incenso, jasmim
*
A madrugada está sem horas
e o tempo se tornou ninguém
a curiosidade do ser que explora
surge de onde nada vem
*
Deixa eu ver teu sorriso,
e sentir seu colo
sou teu amigo
detetive simplório
*
Desvendo os medos,
velo teu sono,
um protetor,
não o teu dono...


Robson Deorristt -Recanto das Letras



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Recado à nossas semelhanças de Robson Deorristt é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

El Cantante


Todos os sorrisos se desfizeram e na calada da noite a inteligência condena.
Quem sente a culpa de nós todos? Os álibis são os mesmos, nem um enxugar de lágrima da tristeza necessária por aqui seria impetuosa,
Nem as batidas de palmas do carteiro seriam o alívio da agonia de esperar por algo que não vem, eu sou triste assim por que algo me falta.

Nos arredores, choros de criança,
Que não consegue falar o que quer
Por que a voz lhe falta
Por que lhe falta a palavra
Por que lhe falta a vida

E na vida que sobra
Fica o desespero
De não saber nada
Nem pro que serviu...Nem pro que era pra ser
Quem foi já era
Quem ficou
Ficou...

Quando as tecnologias brindam nossos olhos
No entardecer de um domingo
Vibra a ignorância do olho
Que só enxerga o que vê
Como o órgão é obsoleto
Vem o espírito da tv
O conteúdo absurdo
Queira ou não queira
Faz parte de você

Rima de louco gera descrença
Tecidos vermelhos podem decorar
Esconder o rosto agudo e debochado
De quem tem vontade de se exilar
O exílio de poucos será o paraíso!
Logo o paraíso que ninguém nunca descreveu
Pois quem descobre o paraíso
Não consegue contar pra ninguém

Na falta de rosas te envio margaridas
E uma banda pra tocar a noite inteira
Conheço o cantor, o violeiro, sanfoneiro e a cantora...
Até paguei iluminador pra acender a fogueira
Sou teu amigo, poeta e amante...
Dou-te meu coração
Sou um romântico
El cantante

Robson Deorristt

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Resignado Amor


A moça que disfarça o sorriso na mesa ao lado, sofre como rosa despida de espinhos. Os seus olhares que penetram as paredes, socorrem os abraços perdidos na madrugada.

As mãos tremem querendo grudar o pescoço fino de seu amado, sugar o sangue e colocar no copo para beber como vinho tinto. Ele, foge como pode desviando o corpo de seus ataques, protegendo-se das unhas afiadas que cortam o ar bem a frente de seu rosto. Ele só quis navegar em águas calmas, ter o arco-íris de alegria no branco dos olhos, ver a noite estrelada banhar a grama verde e calada dos campos.

Mas enquanto ele voava ela o aguardava ansiosa e o seu retorno seria a vingança perfeita e sem dor, esperaria silenciosa como uma leoa africana em dias de caça, sorrateira, esconderia suas armas na vegetação da savana do seu lar. Ele, distraído nem percebe seus planos de fêmea ferida e dorme cansado ao seu lado, ela, o observa com olhos caídos, deslizando os dedos inquietos nos pelos de seu peito e nem as gargalhadas o fazem acordar.

Mas os dias passaram e hoje eles estão neste bar, bebendo e discutindo como loucos, justificativas, rancor e raiva, cólera e saliva, beijos e mordidas, lágrimas e coceira nos olhos, um fuma e o outtro bebe, um grita e o outro ri, derrubam a bebida sobre a toalha quadriculada, dão risada sem parar, brincam com seus defeitos e silenciam.

Depois de todo o agito instantâneo, ela o perdoa sem exitar, abraça o colo e beija sua orelha, jurando seu amor, concordando que na vida nada pode afastar um do outro, nem a atitude desenfreada poderá rompaer o laço puro de cumplicidade e que toda a raiva sentida deve ser esquecida e jogada num canto da porta de entrada para que o vento possa levar toda a poeira embora.

Enquanto saiam abraçados, ele pagava a conta, ela erguia o copo para um último gole, batendo- o com força sobre a mesa. Enquanto ele desliza a mão por suas costas ela levanta o cabelo pra que aquele chamego sincero possa subir até o pescoço e aliviar de vez toda a tensão do relacionamento.


Robson Deorristt- Direitos Reservados
Resignado Amor- Publicado no Recanto das Letras em 07/08/2008
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domingo, 7 de dezembro de 2008

Cavaleiro


Eu penso as vezes sobre aonde quero chegar, mas é nesta hora que visito os meus anseios e os meus arrependimentos e é aí então que me vejo no lugar de onde eu deveria ter saído . Eu sei que tentamos sempre acertar, mas o acaso sobrepõe tudo. Nas amizades novas? Novas verdades, talvez aquela verdade que ninguém me contaria lá de onde vim e nem sequer teria acesso se não fosse o meu poder de voar. Voando se chega longe, no claro ou no escuro se pode enxergar, pois os olhos de águia ou de formiga sabem onde posicionar-se, seja no queixo do amigo ou na orelha mal lavada, até no cinzeiro se pesca um bom peixe, se os copos vazios são um desleixo? Que venha o garçom e sua gravata limpar o uísque derramado. Os atores sem palco? Continuam dançando sem luz? E os malditos poetas? É... os nossos queridos.... quem sem suas canetas não rimam nem raciocinam, bebem como loucos e fumam sem parar. É fácil sorrir aqui, agora, onde me vejo, onde o meu ar é somente o ar que eu respiro e os meus medos vibram em meus dentes.
Hoje a noite eu vou dormir pouco e vou reagir a essa excitação, vou despejar minhas letras disfarçadas no seu travesseiro amassado e com a saudade que me inspira sofrer por nós dois.E foi no realçar do seu sorriso que vi o que não queria, o tempo é doce quando corre suave, acelerando, ele já vira um estorvo. Não daqueles que te queima a pele, mas o do calcanhar dolorido e da manta sem cor, do beijo sem alívio e o da mentira necessária. È claro que podemos mentir um pouco, é óbvio, basta mentir, interpretar, sorrir como eles, andar no mesmo trilho mesmo com vontade de pular. No carrinho de mão que carrego meu ouro, desvio sempre do penhasco ao lado, sem olhar pra baixo e pensar no pior, sigo como um insano decente pondo um pé atrás do outro, com o equilíbrio necessário pra não cair, por que quando eu conseguir atravessar nada poderá me acontecer.Mas eu sei que nada é certo enquanto dure por isso eu beijo a flor que me aparece. Acariciando sua pele eu acalmo meus nervos intranqüilos e me lembro de quem eu sou, do que eu preciso e pra onde eu penso que vou. No conforto de seu colo viro um filho pidão, reclamando seu leite, á noite, á qualquer hora, cheio de tesão, me esfregando em suas pernas até chegar no cheiro do pescoço pra me aconchegar no lugar mais quentinho do mundo. As enlouquecidas? Eu já esqueci! Virei á página do meu capitulo e comecei a escrever, passei por pontes e morcegos, dentes grandes, chapéus grotescos e unhas afiadas, vi o Drácula, a feiticeira, o homem das neves e a noiva da estrada, no que eu acreditei? Somente nas solitárias pegadas que encontrei quando caminhava sozinho.


Robson Deorristt
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Escrito em 14/10/2008

Publicado no Recanto das Letras, protegido com o código T1227380


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Cavaleiro de Robson Deorristt é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.

O coringa


Sim! pode-se dizer que um dia foi um playground, talvez até um parque de diversão pra quem gostava de deslizar no escorregador da praça. Hoje haviam balas ali, pirulitos também, havia lá um pedaço de maria-mole abandonado. Parecia uma oferenda a Cosme e Damião, eu quase os ouvi, não fosse os faróis incovenientes dos raros carros que passam por ali.


Na minha cabeça pode existir qualquer coisa agora, você não vai entender, pois é quase uma confusão lúcida e reveladora, podem existir castelos onde o guardião está nu e você não pode pedir informação alguma, pois ele não vai responder, ele não vai olhar pra você, como estátua lhe despreza e você nem percebe.

Lá na sala de aula, me tornei o melhor aluno, minha cabeça desviada pode perceber quase tudo, mas eu canso sempre quando vejo a hipocrisia na frente, viro as costas desejando não ser eu, mas quem eu sou? Pensei que fosse poeta mas me enganei, outras vezes pensei que eu era um ator,estudei pouco e parei, tentei ser um atleta mas o cigarro me esgotou, agora escrevo merda, pra que? eu não sei, músico? desisti, gosto de cantar e tocar pandeiro, paciência, também não deu.

No conformismo da chatice que o mundo se revela é fácil reclamar, está claro, pode se enxergar a olho nú, somos migalhas do universo, pensando ser reis, somos o bagaço, um pedacinho, mas achamos ser totais, cuspam no espelho quando seu rosto refletir, raspem suas cabeças, vocês são feios! Gosto muito mais dos cães e das vielas vazias, eu tenho idéia do que existe por aí.

Quando me casar na igreja eu vou xingar Deus, vou vomitar no altar e dizer que eu não quero, eu não vou servir, não vou vestir a gravata da mentira no meu pescoço branco, eu não posso, eu sou ateu, sou anarquista, sexista e não gosto de Deus, minha revolução é interna, meus valores? acho que perdi... sou egócêntrico e malvado, posso me disfarçar, sou um coringa, debochado, viciado, pairando no ar.
Robson Deorristt
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Homem da Noite


Na imensidão da noite, por entre as vielas de sacos flutuantes, correm os pés do mascarado homem da noite. Mosquitos reluzentes vagueavam por ali e mais um "boa noite" foi dito. Sem evitar os transeuntes o seu caminhas denunciava, era excêntrico, bonito e por que não dizer elegante, sim! Era ele o bambo homem do escuro. Inevitáveis indagações sobre sua personalidade existiam, era um "saco", também podia!

As perguntas indiscretas que chegam sem avisar, enrubescendo o rosto e causando um gaguejar, eram a porta de entrada pras alucinações e covardias, era algo nunca esperado.

Em cada beco, um cigarro aceso... Um bate papo sobre o que se espera daqui, o mascarado era ouvido, como um guia, um artista surreal, Salvador Dali! Rodeado de perguntas, as filosofias surgiam, sobre o tudo, sobre o nada, sobre o passado e principalmente sobre o futuro, era o momento de vasculhar tudo que existia no mundo.

Chapéus! Bigodes, costeletas e blazer de couro, tudo o que o homem do escuro vestia, servia de modelo, por mais absurdo. As mulheres que tocava, apaixonadas se diziam, elogiavam o mascarado e sacudiam seus vestidos. Nos bairros do bairro era um cara conhecido, não por sua máscara, mas pela inteligência e estilo, a todos se dedicava, um detetive, curioso e ativo.

Logo que a noite sumia, o mascarado desaparecia! Alguns diziam que fugia...Outros falavam que era bruxaria...Diziam que seu rosto transformava toda sua energia, era feio, como um Ogro: cicatrizes causadas por magia. Também disseram que era um padre, desses meio anarquistas. Diziam que criou uma Bíblia, que até era dono de profecias. Outros dizem que era filho de um sábio, outros, que era do diabo.

Mas quando ninguém esperava, o misterioso sumiu, deixou tristeza e um vazio, apagou... Sem se despedir, sem olhar para trás ele pegou a estrada... Mas e agora o que fazem os outros? O que eles vão ouvir, no que eles vão pensar? Como podem sentir? Sem orientação? Sem teoria? Sem coração? Bebe-se a saudade, e pensam no futuro...Logo surge outro homem da noite, sempre tem alguém pra pular o muro.


Robson Deorristt - Copyright ©

Publicado no Recanto das Letras em
26/10/2008- cód: T1248624- Direitos Reservados


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Homem da Noite de Robson Deorristt é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.